Com certeza você já viu algum filme de romance adolescente, e eu aposto que torceu pelo melhor amigo nerd ficar com a protagonista. Nesse post vamos conversar um pouco sobre como esse tipo de enredo poderia ser feito.
Isso é válido tanto para filmes, séries e livros. O que for.
Esse tipo de filme, geralmente do gênero escolar, é o tipo de água com açúcar que gostamos de assistir. Afinal de contas, o enredo não tem tanto drama e detalhes que tornem maçantes, por ele ser miseravelmente óbvio. Você sabe o que vai acontecer, mesmo assim o assiste ou lê.
O que irei focar nesse post é apenas a relação que a protagonista tem em seu triângulo amoroso, e que deixa muita gente irritada, afinal dá aquela sensação de “segunda opção”.
Eu sei que você pensou em algum filme, série ou livro que tenha isso, e eu sei que você entendeu o que eu quero dizer.
Como seria possível concertar esse tipo de relação nos enredos?
Entendendo o triângulo amoroso como nos é apresentado
O triângulo amoroso que sempre aparece para gente é da garota impopular, não muito bonita, tímida se apaixonando pelo cara mais descolado do colégio. As vezes esse garoto popular é o tipo de personagem que todos amam por ele ser certinho ou por ele ser o exemplo da rebeldia.
Geralmente a protagonista tem dois melhores amigos, uma garota e um garoto. O garoto é nerd estereotipado que sofre algum tipo de bullying, mas que mantém uma paixão secreta pela protagonista.
Com quem ela vai ficar?
Com o garoto popular, é óbvio. Se o protagonista masculino for o popular certinho, então ele é pra casar. Aquele tipo de cara que toda garota acha que vai amá-la incondicionalmente, a mimando e sendo romântico 24/7. Agora, se ele for o rebelde, então ela gosta dele para o concertar e trazer o lado bom da força.
Esse concertar trás o pensamento de que o amor é capaz de mudar as pessoas. Se ele me ama, irá parar de ser rebelde. Filmes e livros trabalham nessa premissa.
E nós que torcemos pelo nerd justamente por ser aquele que trata a protagonista bem, não faz nada de errado, a ajuda sempre pode, ficamos com a placa dos trouxas junto com o rapaz.
O tempo passa, tudo muda inclusive os clichês
O clichê da garota nerd e impopular se apaixona pelo cara mais popular do colégio passou por uma remodelagem, uma vez que a cultura nerd tem se tornado algo legal e não ruim. Antigamente, os nerds eram considerados perdedores, pessoas “feias”, um tanto quanto esteriotipadas.
Hoje em dia, isso não funciona mais. O nerd se tornou o novo popular, pois ele entende as referências dos filmes da Marvel (tipo o Capitão América, risos), é bom em jogos e tem diversas capacidades que os garotos populares de antigamente não tem. Sendo assim, os antigos populares se tornaram os perdedores, por serem vazios, burros e apenas um rostinho bonito.
Ou seja, hoje em dia é trabalhado um pouco mais as personalidades dos personagens, apesar de não fugirem muito do clichê. O garoto popular e o garoto nerd podem até compartilhar os mesmos gostos, porém o que os diferencia são suas personalidades. Um é extrovertido, outro introvertido. Um é brincalhão e o outro é debochado.
Ainda assim, o peso de rostinho bonitinho pesa na consciência da protagonista, e ela continua escolhendo o garoto popular. No entanto, no meio do enredo a protagonista se decepciona com o popular, e então subitamente ela escolhe o seu melhor amigo nerd. Pois se deu conta de quem a ama de verdade, é o cara que esteve sempre ao seu lado.
O nerd melhor amigo como segunda opção
Dependendo do filme ou livro que estamos interagindo, essa troca de crush por parte da protagonista não é bem trabalhado. Fica aquela sensação de que o melhor amigo nerd foi escolhido como segunda opção.
Quando vejo alguns comentários de vídeos dos filmes adolescentes, essa é a maior reclamação do povo. O foco do filme/série é voltado para o garoto popular como protagonista masculino, então o amigo nerd não tem chance de mostrar seus atributos nas telas. O único espaço entregue à ele seria dando conselhos à protagonista.
Vejamos bem, não é necessário um bicho de sete cabeças para mostrar a protagonista se dando conta de quem a ama é o melhor amigo. O problema é que ela vai parecer alguém superficial demais. Enquanto o nerd aproveita todas as suas cenas para mostrar com ações os seus sentimentos, a protagonista não faz nada.
Suas cenas são usadas para mostrar suas afeições ao garoto popular, não ao amigo nerd. Ela apenas se dá conta de que ele está lá, a amando. Repentinamente, no final do filme, a protagonista “resolve” dar uma chance a ele.
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Como pode trabalhar essa relação?
É muito simples, e fácil, de resolver esse problema. A melhor amiga.
A melhor amiga é aquela que dá conselhos, ouve as lamúrias da protagonista, e puxa a orelha quando necessário. Tudo o que ela precisaria fazer é chamar a atenção da protagonista de que o amigo nerd PODE estar gostando dela. Pode. Hipótese.
É claro que a protagonista iria negar de começo, mas aí a melhor amiga joga “será?”. Pronto.
Quer fazer um ser humano entrar no mar dos questionamentos, jogue um será. Será que ele gosta de mim?
No caso da protagonista, a partir dessa pergunta ela ficará consciente das ações do melhor amigo nerd, questionando-se o tempo todo de quais seriam as intenções dele.
O que estou dizendo é que o questionamento seria o cerne desse enredo, onde a protagonista iria se atentar à ações dos dois rapazes. Além disso, ela irá prestar atenção em seus próprios sentimentos em relação aos dois, e não um só.
Ponderar o que é atração física e o que é amor seria interessante, principalmente na fase da adolescência onde esses sentimentos e emoções podem ser confundidos com facilidade. E, de praxe, ensinaria algo aos jovens modernos.
Humanizando os personagens e seus sentimentos
Se essa ideia é trabalhada no enredo, a protagonista estará levando em consideração os sentimentos dos dois rapazes, e não de um só.
Geralmente esse tipo de enredo acaba trabalhando na decepção da protagonista, que parece desesperada em ser amada por alguém, que acaba indo para o melhor amigo. Quando isso é feito no enredo, pode passar a lição de “não importa quem seja, desde que me ame”.
Por isso que o público fica frustrado com o romance, dizendo que o nerd amigo ficou como segunda opção.
Agora, trabalhando os questionamentos da protagonista sobre os sentimentos dos dois, os colocando como iguais, já é diferente. A protagonista estaria validando os sentimentos deles, e ponderando sobre os próprios sentimentos. Não trataria como substituto de um.
Também é preciso lembrar que emoções e sentimentos nem sempre são fáceis de identificar e de lidar. Principalmente nessa fase da vida, onde saímos do infantil para ir ao jovem adulto. Uma fase transitória complexa.
Se apaixonar também é complicado. Se há adultos que passam por situações complicadas, quem dirá um adolescente. Então seria interessante que filmes e livros abordassem esse lado do questionamento, onde os personagens tem o genuíno interesse de entender e avaliar as emoções dos outros e dele próprio.
Conclusão
Filmes e livros de romance colegial são considerados clichês que influenciam os jovens a sonhar com o amor. Quem nunca quis ter um romance de escola que desse certo pra vida toda, não é mesmo?
A questão principal trabalhada aqui é o triângulo amoroso envolvendo a protagonista, o garoto popular e o melhor amigo nerd, que muitas vezes é mau trabalhado nos enredos. Isso gera insatisfação por parte do público, que pode não simpatizar com a protagonista.
Sendo assim, trouxe uma possibilidade de solução que pode ajudar a humanizar essa cama de gato, e que ainda tornará uma boa influência para o público.
Eu acho que ela devia ficar com os dois, pq não?
Se for a intenção do autor, ela poderia ficar com os dois sim.