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The Devil Judge: jogo de juiz vingativos e significativos

The devil judge

Se você fosse um juiz recém contratado pelo governo para trabalhar ao lado de um juiz popular e misterioso a fim de investigá-lo, o que faria? Entraria na sua vida lentamente tentando desvendá-lo até descobrir cada segredo seu, mantendo a distância emocional ou não? Nesse kdrama chamado “The Devil Judge” iremos analisar o seu enredo e seus símbolos!

Sempre estou no tumblr atrás de alguma coisa pra assistir, e eis que aparece para mim vários gifs de um kdrama com dois atores bastante populares. Fiquei curiosa e pesquisei no Viki o tal drama e o encontrei legendado em português. Por que não dedicar meu final de semana para assisti-lo?

Foi o que fiz. E agora venho trazer para vocês a minha análise de enredo. Gostaria de avisar que esta autora passa bem depois de ter surtado em vários episódios e de ter dormido às quatro da manhã depois de finalizar o décimo sexto episódio.

Gostaria de avisar ao leitor que esse post contém spoiler do enredo. Algumas informações são necessárias de serem passadas, para que o leitor possa compreender a minha análise.

Vamos ao que interessa?

Sinopse

Kang Yo Han (Ji Sung) é o “Juiz do Diabo” — o principal juiz do supremo tribunal do país. Em uma Coreia do Sul distópica do futuro, a palavra dele é a lei, mas seu tribunal também é um estúdio de televisão. No que se tornou o principal reality show para TV, os espectadores são convidados a participar ao vivo de um autointitulado “tribunal do povo”. Aqui, a ganância e a corrupção são aparentemente expostas aos olhos de toda a nação, e as punições, impostas de acordo. Por ser uma figura polêmica, o público não tem certeza se Kang Yo Han é um verdadeiro herói do povo ou uma força maligna semeando o caos em seu tribunal.

Enquanto isso, Jung Sun Ah (Kim Min Jung), uma mulher severa, inteligente, ambiciosa e com fome de poder, é a rival feroz de Kang Yo Han. Saída da pobreza para se tornar diretora de uma fundação de responsabilidade social corporativa, ela detém um poder considerável nos bastidores, mantendo laços estreitos com políticos e empresários, e está determinada a promover sua própria visão para o futuro. Sob sua mira também está o próprio “juiz do Diabo”, cujos segredos mais sombrios ela espera descobrir.

Nesse mundo turbulento, dois amigos de infância buscam a verdadeira justiça: o órfão e juiz inexperiente Kim Ga On (Jinyoung) e a policial Yoon Soo Hyun (Park Gyu Young). Será que eles têm o que precisam para enfrentar a ardilosa Jung Sun Ah… e o “Juiz do Diabo”?

“The Devil Judge” é uma série dramática sul-coreana de 2021 dirigida por Choi Jung Gyu.

(Sinopse disponível no site do Viki, link ao final do post).

Um juiz poderoso e misterioso

A primeira coisa que nos chama a atenção nesse drama é justamente a figura de Yo Han, pois a primeira informação que temos dele é sobre sua popularidade social. Ele já está com sua carreira consolidada, sentado em um trono sobre a sociedade apenas observando as coisas acontecerem em sua volta. Imaginei que a gente veria alguém que está começando com seus planos e atingindo a ascensão, porém nosso anti-herói já está com a coroa na cabeça.

O que mais gostei da primeira parte da novela foi justamente a forma como Yo Han está sempre um passo à frente. Você não sabe dizer se ele é uma pessoa boa ou ruim, e convenhamos esse tipo de julgamento pouco importa para o enredo. Apesar de que a confusão é o que nos mantém refém em cada episódio.

Na medida em que Ga On investiga Yo Han, pegando resquícios de histórias que sempre colocam o juiz como um verdadeiro diabo, acreditamos que há um ser humano poderoso que conseguiu dominar o seu lado monstruoso. Aquele tipo de pessoa que não tem problema algum em sujar suas mãos de sangue, que fala sobre justiça na frente das câmeras, mas que usa o poder para conseguir o resultado que deseja.

Pode ser uma atitude condenável, porém é esperado. Dentro dessa sociedade fictícia é ridículo esperar altruísmo.

Mas o que me chamou a atenção mesmo foi que na medida em que Ga On passa a conviver com nosso pequeno monstro, Yu Han parece disposto a conduzir e ensinar o nosso jovem juiz a ser como ele. Como um mestre, um professor.

Relação de Yu Han e Ga On

Quando os dois se conhecem eles já tem as primeiras impressões formadas. Ga On havia sido recrutado pelo seu antigo professor, e atual ministro da suprema corte, para investigar Yu Han bem de pertinho a ponto de encontrar cada podre seu e jogá-los na mídia. Inicialmente Ga On o faz, porém quando o perigo ronda o nosso pequeno monstro ele sempre parece disposto a salvar o juiz inexperiente.

Ou seja, fica difícil pro Ga On manter certa distância de Yu Han, já que ele parece ter atitudes boas. No entanto, na medida em que conhece mais o passado de Yu Han, ou pelo menos o que contam sobre seu passado, Ga On passa a acreditar facilmente que o monstro é, de fato, um monstro.

Já Yu Han fica balançado com a presença de Ga On por ele ter um rosto e comportamento muito parecidos com seu finado irmão Isaac. Como a história do passado de nosso monstro gira em torno da morte de seu irmão mais velho, conseguimos perceber que ele é apegado à Isaac. Sim, é, e não era. Porque esse é o motivo primordial que o faz cuidar de Ga On.

Graças à um atentado no escritório de nosso monstro, os dois rapazes passam a viverem juntos por motivos de segurança. Ou seja, Ga On tem acesso à vulnerabilidade de Yu Han na medida em que conhece sua família e sua história. Além disso, a presença do jovem juiz na casa do monstro causam mudanças na dinâmica familiar.

A convivência tornam ambos próximos e confortáveis, ganhando a confiança um do outro… em certo ponto né.

Como criar o seu pequeno monstro

Ga On tem uma história de vida bastante triste quando seus pais morreram. O pai havia sido enganado por um político corrupto e se endividou tanto ao ponto de ele cometer suicídio, e a mãe morrera de choque. O garoto crescera se envolvendo em brigas e sendo cuidado por seu professor e pela melhor amiga.

Na medida em que Ga On se torna constante no caminho do juiz monstro, Yu Han tem que decidir se irá eliminá-lo de uma vez ou se irá trazê-lo para o seu lado. Uma vez que eles começam a ter uma relação próxima, Yu Han então tenta fazer o seu melhor para trazer o rapaz ao seu lado cutucando sua ferida. Para isso o leva até a prisão onde supostamente o político corrupto estaria preso, mas não está. Em seu lugar há uma outra pessoa assumindo seu nome.

Achei esse episódio bastante interessante, pois até então Ga On tinha sim um ódio vingativo por políticos ricos e esnobes, porém seria brando. Ele cresceu com duas pessoas que sempre falam sobre a justiça e toda aquela conversa de boa ética e boa moralidade. Ga On pode direcionar seu ódio a partir dos julgamentos de acordo com a lei.

Mas não é assim que o mundo funciona, e Yu Han faz questão de trazer o rapaz para a realidade ao mostrar que foi enganado.

O culpado pela morte de seus pais, e de tantas outras pessoas, foi sim condenado, mas não cumpre a pena. Na verdade ele está muito bem escondido em outro lugar. Quando Ga On descobre isso, temos um ódio vingativo se tornando uma chama bem grande.

Agora Ga On tem motivação para colaborar com Yu Han, independente de serem métodos éticos ou não.

Desapego ao passado é importante para o monstro

Uma vez que o assunto sobre o político corrupto é encerrado, Ga On dá uma acalmada em seu ódio vingativo. Então ele começa a ponderar se as atitudes e planos de Yu Han são realmente precisos. Agora, ele tem amizade com o monstro e leva em consideração seu bem estar, então Ga On tenta persuadir seu chefe a não seguir por esse caminho tão obscuro.

Nessa parte da novela, toda vez que Ga On dá um passo à frente pra seguir ao lado de Yu Han, ele dá dois para trás por receio. E os responsáveis por fazê-lo retroceder são sua melhor amiga policial e o professor. Eles constantemente pedem que o rapaz se afaste do chefe, que o investigue, pra ficar fora de perigo. Por apego emocional à eles, já que são as únicas pessoas que sobraram em sua vida afetiva, Ga On fica receoso de prosseguir com certos planos e passa a questionar Yu Han.

Chega um momento que Yu Han fala para Ga On que se ele quiser ficar ao seu lado terá de se afastar da policial. Ou seja, se desapegue do seu passado para ver o mundo como ele é, já que essas duas pessoas insistem em senso de justiço e moralidade que são falsos.

O apego emocional de Ga On é colocado à prova quando a policial acaba morrendo, justamente logo depois que os dois haviam se declarado um para o outro (fiquei triste, porque gostava muito deles juntos). Yu Han logo afirma que quem matou a policial não a tinha como alvo, mas sim os próprios juízes. E isso, obviamente, acende o ódio e o desejo de vingança em nosso rapaz.

É esse sentimento que Yu Han queria que o seu novo companheiro tivesse para trazê-lo, de fato, ao seu lado.

Um juiz jovem e influenciável

Na reta final da novela fica bastante nítido que Ga On é uma pessoa facilmente influenciável, que consegue ser manipulado sem muito esforço. Tanto por Yu Han quanto por outras pessoas. Desde que alguém aponte alguma coisa como “prova concreta”, ele acredita.

Foi o que aconteceu quando Ga On ouve que quem teria matado sua amiga policial fora Yu Han e não a galera da Fundação Social (antagonista da novela). Na medida em que investiga, Ga On se depara com provas e mais provas de seu chefe é de verdade um monstro… e ele o denuncia.

Aquele juiz sentado no trono é abatido por quem ele mais confiava, seu aprendiz.

E qual é a surpresa ao descobrirmos que na verdade Yu Han fez absolutamente nada em relação à policial? Nem sobre os demais crimes das quais é acusado? Salvo suas atividades enquanto juiz, certo. Ga On percebe que ele foi manipulado pela pessoa que ele mais confiava. E agora se dá conta de todo o governo está contra Yu Han.

Nesse momento até comparei Ga On com uma bolinha de ping-pong, que toda hora vai de um lado para outro de acordo com a batida de uma raquete. O garoto é muito apegado ao seu senso de justiça da qual foi ensinado, que não percebe dentro daquela realidade aquilo não existir. Yu Han teria ensinado isso à ele, mostrando que essa é a natureza do ser humano, fazer o que for preciso pra garantir a própria sobrevivência.

E bem… ele viu isso da maneira mais dolorosa, quando as duas figuras que o prendiam ao seu passado agora se foram.

Sobre o tribunal do povo

O que se destaca na novela é o chamado “Tribunal do Povo”, que seria justamente um tribunal sendo transmitido ao vivo nacionalmente, e a própria sociedade coreana participa a partir de um aplicativo na condenação do réu.

Ou seja, é como um Big Brother, onde a promotoria e o réu brigam no tribunal mostrando suas provas e o juiz as somam com o resultado de enquetes para dar o seu veredito. O público assiste o julgamento e apertam um botão escolhendo se o réu é inocente ou não. Os resultados são computados e com isso cabe ao juiz determinar a sentença.

No começo da novela parece até divertido acompanhar esse tipo de dinâmica, mas na reta final percebemos que esse Tribunal do Povo é uma grande arma para a sociedade. Quando um rapaz é acusado de terrorismo e homicídio pela segunda vez (já que na primeira ele conseguiu escapar mesmo usando tornozeleira eletrônica), fica nas mãos do público se ele irá para a cadeira elétrica ou não.

Isso mesmo. Cadeira elétrica.

Na medida em que o povo ia apertando o botão em seus celulares, aumentavam a corrente elétrica. Ou seja, é como se a própria sociedade estivesse matando o réu. E isso fez com que Ga On intervisse com sua moralidade.

Nessa parte, em específico, achei interessante a discussão sobre a influência do tribunal. Pois essa seria a segunda vez que um réu recebia sua sentença nacionalmente, sendo que a primeira foi o açoitamento. O que horrorizou Ga On, e de certa forma influenciou a sua decisão de interromper a sentença, foi de ter percebido crianças brincando com as sentenças.

Um homem com ferramenta é um homem poderoso

Ga On tenta persuadir Yu Han de não prosseguir com a cadeira elétrica, falando sobre o quão errado era sujar as mãos da sociedade coreana de sangue sob pretexto de fazer justiça. É interessante o discurso de nosso jovem juiz, já que ele não percebeu o empoderamento que o aplicativo dá para a própria sociedade.

Justamente por terem a possibilidade de interferir nos resultados do julgamento e perceberem isso em tempo real empodera o ego das pessoas. Se você for assistir, preste atenção nas pessoas quando elas estiverem votando, algumas delas xingam, apertam furiosamente o botão no aplicativo. Ou seja, elas realmente querem que aquilo aconteça.

Mesmo que sejam pessoas que não cometam crimes, isso não significa que sejam íntegras. O ser humano é naturalmente maldoso, e Ga On se recusa a ver esse lado.

Diga-se de passagem se o rapaz realmente morresse na cadeira elétrica, apesar de alguns acharem o método extremista, haviam mais de nove milhões de pessoas colaborando com aquilo. Não vale a pena dizer que as pessoas não teriam a noção da dimensão que era tirar a vida de alguém, pois elas sabiam sim.

O ser humano sabe que é frágil, que sua vida pode acabar num piscar de olhos. Por isso, quando ele se torna capaz de deter essa fragilidade de outra pessoa, ele se sente empoderado. Mas se a frágil vida se encontra fora do seu controle, o ser humano se torna covarde.

Simbolismo do monstro e diabo

Muito bem, vamos ao que interessa.

Yu Han é constantemente chamado de monstro e diabo pelas pessoas que não gostam de seus comportamentos. E isso é algo que o acompanha desde criança. O chamam de monstro por ser alguém que não tem medo de sujar as mãos de sangue e nem de manipular as pessoas. Yu Han é uma pessoa que sabe muito bem o passo que está dando.

Se pensarmos de maneira simbólica, podemos ver uma certa lógica aí. Lembre-se, todos nós temos um lado monstruoso. Usarei o mito de Teseu e o Minotauro como exemplo, facilitando a compreensão de vocês. O monstro que temos é um lado selvagem e instintivo que nos domina quando a razão está fora de consciência, são os impulsos. Quando controlamos esse monstro, podemos usá-los de maneira racional, a fim de não agir como verdadeiras bestas enjauladas.

Muitos mitos antigos mostram isso, como Teseu, Hércules em seus doze trabalhos e o próprio diabo.

Yu Han poderia ser alguém que dominou esse minotauro. Há momentos, sim, em que vemos ele emocionalmente abalado e perdendo esse controle, porém são bem poucos. Geralmente Yu Han se mantém na linha mesmo em situações de extremo desagrado.

Já Ga On não. Quando ele encara situações que pedem por frieza, ele age emocionalmente. Quer tentar seguir outros caminhos mais racionais, mantendo-se fiel à sua moral. Por isso que Yu Han tenta mostrá-lo que as coisas nunca são como parecem. Na verdade há uma frase do Yu Han que clareia isso quando estão investigando o político corrupto que teria enganado os pais de Ga On: “veja a sua verdadeira face”.

A frustração é uma forma de se desapegar de alguma coisa.

Presença do cristianismo na história

Outro ponto simbólico é a constante presença do cristianismo na história, seja no nome de alguns personagens como Isaac e Elia, como a tragédia que aconteceu com a igreja. Yu Han perdeu o seu irmão mais velho em um incêndio numa igreja, onde ele e sua sobrinha foram os únicos integrantes da família que sobreviveram.

O monstro tem em suas costas uma cicatriz de queimadura no formato de um crucifixo, que sempre aparece quando está sonhando justamente com esse incidente. É bastante significativo essa cicatriz quando pensamos na frase “carregando uma cruz”.

Essa frase é dita quando carregamos um fardo muito pesado sozinho, como Jesus fazendo a Via Crúcis. Se você não sabe, se refere ao trajeto que Cristo percorreu até a gruta onde fora sepultado.

No caso do Yu Han, o fardo que ele carrega é a verdade à respeito da origem do incêndio na igreja. A cicatriz é feita por queimadura, ou seja elemento fogo. Um dos símbolos do fogo remete ao ódio, raiva e rancor, que ardem como uma chama. Não tem a frase “botar lenha na fogueira”? Pois é, alimentar o ódio. Então um simbolismo que podemos destacar aqui é a queimadura simbolizar o rancor que Yu Han carrega consigo por toda a vida.


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Comparando Yu Han com a figura de Lúcifer

Não sou uma grande conhecedora e intérprete da bíblia cristã, por isso minha interpretação será feita baseado na pesquisa superficial sobre a história de Lúcifer. Além disso, parece que existem outras histórias fora do cristianismo à respeito dessa figura, que também usarei como respaldo para a minha análise.

Pode conter algum erro de minha parte, por isso comente caso eu tenha falado alguma besteira. No mais, deixarei no final do post o link dos materiais que utilizei como respaldo, tudo bem?

Basicamente a figura de Lúcifer dentro do cristianismo gira em torno de um querubim detentor de beleza e sabedoria, passando a desejar se assemelhar à figura de Deus dando origem à competitividade. Ou seja, cobiçava o poder que Deus detinha. E então ele fora subjugado para as trevas. Mesmo assim o anjo caído não se arrependera de seus atos e continuou a almejar aquele poder, tornando-se o “inimigo de Deus”.

Não digo que Yu Han almejava algum tipo de poder antes do incêndio tirar a vida de seu irmão, mas podemos fazer uma alusão sobre o ocorrido. A partir da morte do irmão que lhe mostrou a soberba dos políticos presentes no acidente, Yu Han passa a desejar por vingança. Seria a queda do mundo perfeito e feliz que ele vivia, o fazendo viver em um “mundo de trevas”.

Nessa sociedade fictícia da novela, quem está no poder político terá controle de tudo e de todos. Certa parte da novela isso realmente acontece quando o presidente manipula a mídia a fim de falar sobre um vírus assolando a sociedade, quando na verdade não existia coisa alguma. E os seus comparsas, apesar de serem corruptos à própria maneira, sempre seguem aquele que parece ser mais poderoso, ora o presidente ora a antagonista Seon Ah.

Podemos enxergar aí o verdadeiro inferno, onde os pequenos demônios se assemelham à imagem de seu soberano. Acontece que Yu Han, apesar de não ter tanto interesse no poder, também tem seu exército graças à sua boa imagem perante a sociedade.

Uma das faces de Lúcifer

Quem segue crenças e religiões sobre a figura de Lúcifer, dizem que ele é além do retratado da bíblia cristã. É considerado um demônio gentil ao mesmo tempo severo, um guerreiro orgulhoso de seus feitos, frio, analítico, poderoso e um incrível professor.

E sim, estou falando de Lúcifer, mas parece se encaixar bem na figura de Yu Han, não é mesmo?

Segundo o que se diz sobre demonologia, Lúcifer é capaz de ajudar em várias coisas, dentre elas a determinar crenças e moral; defender a sua opinião; curar sua criança interior; vingança; questões de justiça e violência; manipulação de situações; autodisciplina; autodisciplina e orgulho; questões envolvendo mentiras, e entre tantas outras.

Dentre os atos devocionais para essa figura eu destaco a luta pelos seus direitos; manter-se firme e se defender.

Destaquei essas por serem muito semelhantes ao comportamento que Yu Han apresenta ao longo da novela. Só que isso não significa que o nosso personagem seja um seguidor dessa figura, mas sim que foi utilizado um pouco do seu arquétipo na construção do personagem. Isso fica mais evidente quando pensamos na cicatriz que Yu Han carrega consigo, não é mesmo?

Yu Han sabe ser gentil com Ga On e sua sobrinha, apesar de ter mantido a figura de alguém frio e monstruosa ao longo dos anos. A frieza monstruosa é a face que ele mostra para os outros a fim de se manter no poder do jogo.

Não é à toa que a novela se chama “The Devil Judge”.

Simbolismo do passado versus o futuro

Outro simbolismo que percebi foi justamente o apego de Ga On com as pessoas. Ele quer ser um juiz para trazer justiça à sociedade coreana, seguindo as leis corretamente e sendo transparente com o público. Essa foi a lógica empregada pelo seu professor.

Como eu disse antes, o professor e a policial são figuras simbólicas que representam o passado de Ga On. Suas origens, suas dores iniciais, mas principalmente a sua âncora para não se deixar dominar pelo seu minotauro. Quando jovem, Ga On estava prestes a matar o político que tanto causara infortúnios à sua família, mas a policial intervira.

Constantemente essas duas figuras aparecem na vida de Ga On o fazendo retroceder seus passos e tentar manter a razão ao invés de seguir seu desejo por vingança. Não seguir Yu Han.

Já Yu Han representa o futuro de Ga On, não que ele vá se tornar alguém frio e calculista, mas sim alguém que enxergará a sociedade tal como ela é e se posicionará diante dela de forma estratégica. Ou seja, usando o seu minotauro quando necessário.

No final da novela Ga On está sem as figuras do seu passado que o mantém aprisionado na falsa moralidade, mas também sem a figura constante de seu futuro. Na verdade, Yu Han apenas sussurra para o seu aprendiz “Faça direito ou eu voltarei”. Ou seja, se você insistir em ser como era, eu voltarei para te ensinar mais uma vez.

Não dá a impressão de que Yu Han estaria de olho nos passos de seu aprendiz?

Conclusão

Essa novela tem muitos pontos simbólicos para refletirmos, mas o principal é a figura de Ga On como uma balança. Sobre um prato há a sede de justiça e moralidade, onde a lei é a sua maior arma. Porém, seu contrapeso no outro prato é a visão de jogo. Enxergar o tribunal como um tabuleiro onde o jogador com melhor estratégia vence.

Se olharmos bem para a sociedade da novela, é nítido que a visão que o Ga On tem inicialmente é muito inocente, e justamente por isso é vista como fraca e facilmente manipulável. Seria o primeiro a perder. Agora com a visão de Yu Han já é mais fácil de nadar contra a correnteza. É como se soubesse jogar o jogo.

Vale a pena assistir a novela justamente para acompanhar esse desenvolvimento entre mestre e aprendiz que os protagonistas apresentam.

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