A escrita naturalizada é um método desenvolvido por mim que visa a escrita consciente da história. Mas do que exatamente devemos estar conscientes? E como isso pode te ajudar a criar histórias incríveis? Venha comigo que irei te dar mais detalhes desse processo mágico.
Enquanto estudava marketing para criar os perfis do instagram, acabei me deparando com a necessidade em ser única. Não no sentido de conteúdo, mas sim da forma como entrego o meu conteúdo até você. Aqui no blog a autenticidade já existe quando falo de bruxaria e escrita ao mesmo tempo, porém no instagram eu separei os temas.
Diga-se de passagem é bem difícil você tentar ser autêntico em alguma coisa. Na maioria das vezes o fazemos sem percebemos, ou então não sentimos a dita cuja. Por isso resolvi criar um processo. Isso mesmo, um processo.
Quando comecei a estudar filosofia acabei me deparando com algumas reflexões que acabei levando para o instagram do Lady Alis. No meio desse processo dei um nome para essas reflexões de “escrita naturalizada”. Porém, ainda estava bem cru esse método…
Até agora.
O que é a escrita naturalizada
Sabe quando alguém pega o livro do Harry Potter e consegue tirar um pensamento filosófico, ou então algum simbolismo dele? O mesmo acontece com os contos de fadas, onde queremos saber quais são as verdadeiras mensagens dessas histórias?
Pois então, nem sempre o autor está colocando esses significados e simbolismo conscientemente. As vezes são apenas coisas do senso comum, se não automático, que o autor insere na história sem saber o que elas realmente significam.
Por exemplo, associar vampiros e demônios com a noite. Não sabemos exatamente o porquê de relacionarmos esses dois, mas o fazemos por conta do senso comum (ou seria o nosso inconsciente coletivo?).
Na escrita naturalizada trabalho com o oposto disso.
É inserir simbolismos e significados nas entrelinhas com consciência. Fazer o leitor pensar e interpretar as palavras do narrador, a fim de compreender muito mais do enredo. Reutilizando o exemplo dado antes, seria o autor ter plena consciência de que vampiros e demônios representariam o nosso instinto selvagem que precisam ser dominados no nosso inconsciente (simbolizado pela noite).
Ou seja, o autor está consciente daquilo que está escrevendo, dos simbolismos que suas palavras podem trazer, ou pelo menos parte deles. Organizá-los de maneira coerente, para que sejam devidamente interpretados faz parte do processo de escrita naturalizada.
Os pilares da escrita naturalizada
Esse método de escrita irá trabalhar com alguns pilares, que nos ajudam a pensar em nossas histórias e na experiência do leitor paralelamente. Certamente que esse processo de escrita pode sofrer algumas alterações na medida em que eu perceber algo em meu trabalho, mas não se preocupe, atualizarei esse post na medida em que as descubro.
São elas:
Pilar psicológico
A mente tem grande influência nos comportamentos e modos de enxergar a vida, além da forma como nos posicionamos no mundo, isso é fato. Trabalhar com o psicológico é algo profundo, mas que faz grande sentido. É um grande aliado para gerar a conexão e empatia entre leitor e personagem.
Sabe quando você se identifica com o personagem do livro que está lendo? Quando a psiquê dele é explorada no enredo, não parece que as portas da compreensão foram abertas para ti? Esse é o efeito que buscamos no pilar psicológico.
Explorar os sentimentos, emoções e comportamentos são essenciais nas histórias. Fazer o leitor refletir sobre os próprios condutas é uma consequência que desejamos alcançar, principalmente se estiver atrelado ao tema da história. Já que nem sempre somos capazes de identificar e nomear esses sentimentos, então a história o faz a partir da conexão com o leitor.
Se você acha que isso não é cabível, saiba que esse tipo de processo é muito explorado nos animes. Quando for assisti-los, irá notar que os personagens falam bastante de seus sentimentos e fazem reflexões. Então o pilar psicológico não é algo novo, muito bem pelo contrário, é tão antigo que as vezes nos esquecemos de usá-lo.
Certamente envolve, também, a questão da saúde mental. Abordar os transtornos mentais e mostrar como eles impactam a vida do sujeito fazem parte desse pilar.
Pilar filosófico
Muitos irão revirar os olhos e fazer careta quando falo sobre filosofia, porém na escrita naturalizada ela é um forte pilar. Afinal de contas ela conversa pacificamente com as demais.
A filosofia nos permite ir à fundo nas histórias, pois começamos com questionamentos. Pegar uma história e ver o seu outro lado, enxergar uma outra interpretação é mais benéfico que um livro de autoajuda.
Se está reticente sobre isso, basta acessar o link no final do post que te levará para uma palestra de quarenta minutos sobre a interpretação da obra “O fantasma da Ópera”, e entenderá o que eu quero dizer.
Basicamente gosto de usar a filosofia dos mitos, já que trabalho bastante com o gênero fantasia. Os mitos falam bastante de desenvolvimento psicológico de uma única pessoa (protagonista) ao enfrentar os desafios do amadurecimento mental. E como uma bruxa natural que sou, é óbvio que estudar mitos se torna um grande prazer para a minha pessoa.
Porém, a filosofia é muito vasta e profunda e pede por constante estudo e curiosidade. Sendo assim, a famosa frase “só sei que nada sei” passa a fazer sentido. Em suma esse pilar contará uma história cujo valor é grandioso, pois estará conversando com a psiquê do leitor.
Basta ele ser bem curioso e mente aberta para perceber isso.
Pilar simbólico
Basicamente colado aos outros dois pilares. Se olharmos bem conseguimos perceber que nossas histórias são meros símbolos que ensinam nossos leitores a superarem determinadas dificuldades da vida. Apesar que o símbolo, na maioria das vezes, seria mais uma imagem que detém mais significados que meras palavras.
Porém na escrita não estamos apenas usando as palavras, mas como também brincando com a imaginação do nosso leitor. Os colocamos para imaginar nossos cenários e personagens em cada descrição, a fim de que compreendam a cena que se passa.
Isso, para mim, é simbolismo.
No entanto, o que trabalho no simbolismo são os significados por detrás deles. Por exemplo, a lua, a noite, sombras e escuridão, assim como o próprio mar, geralmente são símbolos utilizados para representar o inconsciente do ser humano. Já o sol, dia, verão, luz representam o consciente, a forma como nos externalizamos ao mundo.
Colocar esses símbolos na história justamente para representar esse significado, é o objetivo da escrita naturalizada. Pois eu, enquanto escritora, estou consciente de que esse significado está sendo encontrado na minha história.
Alerta, o pilar simbólico é o mais alto e essencial para esse processo de escrita. Enquanto ele for bem solidificado, os demais pilares também se tornarão grandes alicerces para a história.
Como posso seguir esse método?
Não se trata de um bicho de sete cabeças, mas sim de refletir bem sobre o tipo de mensagem que deseja passar ao seu leitor.
Por exemplo, no meu romance “Lembranças de um Bailey” o principal pilar trabalhado foi o psicológico já que o Alzheimer é o tema central da história. No entanto iniciei cada capítulo com citações de Alice no País das Maravilhas, trechos que condiziam com o cerne do capítulo.
Ou seja, primeiro eu escrevia o, exemplo, sexto capítulo do meu original e então depois lia o sexto capítulo de Alice no País das Maravilhas em busca de um trecho que pudesse simbolizar o que escrevi. Os coloquei com o propósito de alertar o leitor do que será trabalhado ali. Se ele conseguir compreender, muito que bem.
Mas eu sei que o que você procura é um passo a passo de como seguir esse método. Já começo a te frustrar ao lhe dar uma bronca por procurar as respostas prontas, pois aqui eu te incentivo a vivenciar seu próprio processo e conquistar o resultado dele. Isso é o que importa, o processo.
No entanto, não serei tão malvada ao ponto de não lhe dar uma colher de pudim. Mostrarei o caminho para você, mas a caminhada terá de ser com seus próprios pés.
Colher de pudim da escrita naturalizada
Primeiramente defina bem o tema da sua história e o seu gênero. A escrita naturalizada comporta bem todos os gêneros, por isso não se atenha apenas à fantasia. Uma vez que o tema seja definido, descreva coisas que façam lembrar o tema.
Por exemplo: Alzheimer. Coisas que lembram o tema: Alice no País das Maravilhas, filmes sobre o tema, idosos, cor amarela, memórias, fotos…
Segundo passo, no momento em que for planejar a sua história insira essas “coisas” para montar a identidade da história. Coloque o amarelo como cor predileta da personagem, que vai desbotando na medida em que a doença vai avançando. Ou então que ela vai espalhando mais fotos pela casa, na medida em que vai se esquecendo das coisas…
Terceiro passo: foque no desenvolvimento psicológico do personagem. Não se esqueça de explorar seus sentimentos e pensamentos sobre os problemas. Ninguém é perfeito, os problemas são grandes provações que nos tiram da zona de conforto e por isso nos angustiam. Como o seu personagem se sente com isso, como ele irá reagir? Tente explorar bem a forma como ele passará a enxergar a vida e como se posicionará no mundo.
Quarto passo: não deixe tudo tão claro ao leitor. Alguns dos símbolos que foram planejados no primeiro passo devem estar presentes, porém suas funções não devem ser ditas ao leitor. Deixe-o descobrir. Apenas o faça quando for necessário para o enredo, como no caso dos gêneros de mistério. Mimar o leitor dando-lhe todas as respostas é um caminho que não desejamos alcançar na escrita naturalizada.
Porque do nome escrita naturalizada
Todo esses pilares fazem parte de um processo de amadurecimento do ser humano. Ou seja, as histórias e mitos antigos buscam contar o desenvolvimento do próprio homem como algo natural. É um ciclo que devemos vivenciar para ascendermos.
Não se tratam apenas de histórias fantasiosas, mas de lições sendo ensinadas de maneira diferente. É um processo de aprendizagem sendo feito a partir de um “era uma vez”. Só que com um nome bonito e diferente como escrita naturalizada.
Considero isso tudo um processo natural, pois é algo que não fica no nosso controle e muito menos terá um manual ensinando o passo a passo. É uma conversa diretamente na psiquê do leitor, criando seu espaço em sua vida.
Além disso, faz parte de um ciclo. Não tem como fugirmos de ciclos em nossa vida. Etapas começam e terminam num piscar de olhos, e nem sempre percebemos como eles são feitos. As histórias podem nos tornar conscientes disso.
Ou seja, criamos uma história cíclica.
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Conclusão
Esse método de escrita pede do autor mais consciência daquilo que ele escreve e cria. Colocar os personagens em contato com a própria psiquê quando interage com outros personagens, usar os desafios como provações para se tornarem pessoas melhores. E nesse contar de histórias, deixar uma valiosa lição para o leitor.
Para esse contar de história fazemos uso de símbolos que conversarão com nosso leitor inconscientemente. Eles serão posicionados estrategicamente para que tal conversa possa ser feita, se não passará uma mensagem errada.
Esse é o caminho que eu, enquanto escritora, desejo alcançar.