Dentro do paganismo há uma gama de divindades com características diferentes, que podem influenciar de nossas vidas. Trabalhar com uma Deusa envolve conhecer seu mito profundamente, e saber de qual modo ela irá mexer com você. Nesse post, iremos falar dos arquétipos das Deusas Gregas.
Uma das coisas que mais chamam a atenção de um bruxo iniciante é saber qual divindade pagã está influenciando a sua vida. É o que chamamos de Deusa-Mãe e Deus-Pai. Mas nem sempre estamos preparados para conhecê-los, e por mais que peçamos um sinal nada vem.
No entanto isso não significa que não tenhamos um comportamento único. Muito bem pelo contrário, algumas de nossas ações e pensamentos podem estar ligados à um arquétipo. Ou seja, existe a possibilidade de você estar vivendo sob o modelo de alguma divindade pagã, mesmo sem saber.
Interessante, não? Vamos falar um pouco mais sobre isso, então. Para elaborar esse post, estou usando como base o livro de Bolen “As Deusas e a Mulher”, que fala basicamente de mulheres contemporâneas que se portam similarmente à alguma divindade grega.
Sendo assim, focarei apenas no panteão grego, tudo bem? Demos início então.
O que são arquétipos
Podemos entender que o inconsciente, segundo as teorias freudianas, seria um espaço de concentração de conteúdos que foram esquecidos e recalcados pela pessoa. Estando nesse espaço, eles adquirem um significado prático.
Esse espaço, que seria uma camada superficial, é denominado de inconsciente pessoal. No entanto, esse inconsciente pessoal repousa sobre uma camada mais profunda. Tal camada não tem origens em experiências pessoais do próprio sujeito, e por isso é considerada inata.
A camada mais profunda é chamada de inconsciente coletivo. O conteúdo que se encontra nele são idênticos em todos os seres humanos. Seus conteúdos são denominados de arquétipos.
De forma resumida, o conteúdo do inconsciente pessoal advém de nossas experiências, aquilo que aprendemos e recalcamos na medida em que vivemos.
Já o inconsciente coletivo é algo que vem conosco desde o nascimento, por isso considerado inato. Seu conteúdo não precisa ser aprendido, e segundo as teorias, seria como uma informação passada de geração em geração.
Relação dos arquétipos com as Deusas
Então conseguimos entender o que são arquétipos, podemos dizer que são modelos comportamentais que podem nos influenciar inconscientemente. Diante de uma situação difícil, podemos nos questionar o que determinada pessoa faria, caso estivesse em uma situação similar. A partir daí estamos utilizando tal pessoa como modelo para nos basear e chegar à conclusão do quê deve ser feito.
Se utilizarmos dessa premissa dentro das mitologias, conseguimos pensar com facilidade em um exemplo. Imagine aquela mulher bonita, vaidosa, que sempre atrai os homens com sua beleza e feminilidade. Agora pense em uma divindade que corresponda à tais características. Afrodite, não é mesmo?
É dessa maneira que funcionam os arquétipos. No entanto, nem sempre eles ocorrem conscientemente. Seria algo mais cultural e natural.
A autora do livro separou as Deusas Gregas em 3 grupos, pois algumas delas detém traços muito similares entre si. Nós temos então, as deusas virgens, deusas vulneráveis e deusas alquímicas.
Arquétipos das Deusas virgens
Estamos falando de Ártemis, Atenas e Héstia que são conhecidas como divindades virgens, que não tiveram relação alguma com o homem. Sendo assim, elas simbolizam a auto-suficiência, empoderamento e independência da própria mulher.
Em seus mitos dificilmente as vemos passando por algum apaixonamento, podem até desenvolver afetos com homens, mas nenhuma relação chega a ser consumada. Geralmente isso quer dizer que nenhuma relação de afeto irá desviá-las de seus objetivos. Elas são focadas em conquistar o que desejam, e não há homem algum no mundo que as façam desvirtuar de tal caminho.
Tornando a falar dos mitos em que elas aparecem, são poucos os casos em que essas deusas foram atormentadas por uma figura masculina. Atena foi alvo de uma tentativa de sedução, porém não houve penetração, ela conseguiu se esquivar. Ártemis chegou a sentir afeto por um homem, porém ela mesma tirou a vida dele, pois fora enganada pelo irmão Apolo.
Apesar disso, elas não são incomodadas pelos homens. Elas se fortalecem por conta própria para que não se tornem vulneráveis à ninguém.
Podemos dizer que o uso arquétipo dessas deusas irá gerar uma mulher que é autônoma, focando a própria percepção naquilo que lhe é significativo, e apenas aquilo. Ainda assim, entre essas três deusas temos algumas diferenças.
Ártemis e Atenas irão trabalhar o pensamento lógico, algo orientado para fora. São deusas determinadas e fortes, como um escudo de proteção. Já Héstia trabalha com o interior. Deusa do fogo sagrado, ela se torna o centro espiritual da personalidade de uma mulher. Sempre se lembrem que o fogo também simboliza o conhecimento. Logo, fogo interno pode estar ligado ao autoconhecimento, conhecimento do interno.
As três são arquétipos feminino que buscam ativamente seus objetivos. Ampliam a noção de atributos femininos, para incluir a competência e a auto-suficiência.
Arquétipos das Deusas vulneráveis
Diferente das anteriores, as Deusas Vulneráveis trabalha com aquelas que cumprem papéis tradicionais dentro da sociedade. Hera, Deméter e Perséfone representam a esposa, mãe e filha. São Deusas cujas energias são voltadas para o relacionamento, e suas identidades, bem como o bem-estar, dependem desse relacionamento.
Na realidade encontramos esses arquétipos em mulheres que expressam a sua necessidade de vínculo e adoção.
Tais Deusas sofreram em seus mitos, algumas delas foram raptadas, violadas, humilhadas e dominadas pelos deuses masculinos. Se uma relação afetuosa fosse rompida ou desonrada, elas sofriam. A autora, inclusive, fala que o sofrimento das Deusas chegam a ser similares à doenças psicológicas que as mulheres apresentam diante do sofrimento.
Esse sofrimento seria um potencial para que elas possam crescer de alguma forma. A forma como elas reagem.
Hera sempre sofre com seus ciúmes e sentimento de vingança para com as amantes de seu esposo, Zeus. Ainda assim, ela cumpria com seu papel de esposa e padroeira dos casamentos. Justamente por saber o que era o sofrimento de um casamento, ela se torna ideal para proteger e abençoar as esposas. Ou seja, a partir da dor da Deusa Hera é possível crescer e se fortalecer.
Deméter é o papel da mãe coruja, aquela que sofreu quando sua filha fora raptada por Hades, e culminou nas estações outono e inverno. A dor de uma mãe ao saber o que é perder um filho a torna ideal para proteger os filhos.
Perséfone é a filha, quando virgem era denominada de Kore, porém ao ser levada para o submundo por Hades e comer da romã, ela se torna mulher e rainha do submundo. Ela divide tempo de sua vida ora para ser esposa, ora para ser filha. A saída do ninho, deixar de ser protegida para proteger, ela sabe o quão difícil é tal passagem.
Arquétipos da Deusas alquímicas ou vulneráveis
As deusas anteriores mostram uma relação opostas. De um lado temos aquelas que recusam o masculino e focam na própria força da mulher, e do outro temos as mulheres que dependem da sua relação com o outro. Ou seja, a dependência versus independência da mulher.
No entanto há uma Deusa que se encaixa no meio, e faz com que a mulher possa se relacionar com o homem, mas evite ao máximo se apegar à eles. Estamos falando da própria Afrodite.
Mulheres que a usam como arquétipos valorizam o próprio processo criativo, e são receptivas às mudanças. Elas buscam relacionamentos intensos, mas não permanecem neles. Conseguem tirar o prazer de uma relação com o outro, mas sem permiti-lo ferir a sua feminilidade. Ao mesmo tempo que é autosuficiente, ela também necessita ser apreciada pelo outro. Somente sendo vista pelo homem é que ela se sente segurar de si mesma.
E quando falamos em homem, dizemos ser humano, é claro.
As deusas, representando três categorias diferentes, necessitam de expressão em algum lugar na vida da mulher, para que ela possa amar profundamente, trabalhar significativamente, e também ser sensual e criativa (Bolen).
Conclusão
Essa foi apenas a introdução do assunto. Bolen ainda aborda cada divindade individualmente, correlacionando com os comportamentos das mulheres modernas. Mas isso ficará para outro post, a fim de evitar algo exaustivo.
Vejam bem, esses arquétipos mostram não somente a forma como a mulher se relaciona com o outro, mas consigo mesma. Se ela se regojiza da própria presença, não irá procurar por outras pessoas. Se há necessidade da presença de outras pessoas em sua vida para que se sinta completa, ela o fará. E há aquelas que encontram um meio termo.
Nem sempre estamos vivendo uma deusa só. Cada situação da vida pede que um desses arquétipos apareçam e tomam as rédeas. Nos estudos podemos ser Atenas, mas no relacionamentos podemos ser Hera. Algumas mulheres conseguem ser Ártemis, mesmo que sejam mãe solteiras, e com seus filhos agem como Deméter.
Para tudo há um meio termo.
eu posso cultuar por exemplo, cada uma delas em algum momento ou preciso escolher a que mais me representa e focar somente nela?
Desculpa se a pergunta for tola, eu sou iniciante haha
Boa pergunta Larissa! Na verdade aqui estamos falando de um comportamento, então tome cuidado antes começar a cultuar alguma divindade, pois trata-se de um compromisso bem sério. Mas respondendo a sua pergunta, se você estiver passando por uma situação e deseja agir mais como Atenas, então é nela que irá focar naquele momento. Agora, se você deseja focar em uma divindade só, não há problema algum.