Se vê como essencial falarmos sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, pois é um transtorno que muito é diagnosticado em crianças antes dos 12 anos idade.
Por que falar sobre o TDAH?
E é como eu disse, criança. É muito claro para nós, psicólogos, que crianças são diagnosticadas erroneamente quando não é considerado a sua fase de desenvolvimento. Precisamos lembrar a quem não conhece o transtorno, sejam eles profissionais da saúde ou não, de que criança é exploradora de seu ambiente.
Ou seja, ela está em constante movimento para conhecer o mundo a sua volta. É comum a criança não gostar muito de ficar sentada por horas apenas ouvindo um adulto falar coisas complicadas. Sabemos disso, e é estimulado que professores permitam atividades que usem dessa energia para ajudar a criança a se desenvolver.
Uma criança que não gosta de ficar parada, preferindo estar correndo ou fazendo mais atividades interativas, acabam recebendo o diagnóstico de TDAH. “Ela não para quieta, deve ser hiperativa”. É aquela ladainha do, precisamos dar um nome para esse comportamento. Mas na verdade, a criança está sendo apenas uma criança, e acaba sendo diagnosticada chegando ao ponto de ser medicada para que siga os padrões de comportamento esperado.
Alguns profissionais são meticulosos e chegam a aplicar testes psicológicos para testar de suas hipóteses. Se há uma coisa que sempre temos de tomar cuidado na hora de diagnosticar alguém, é para não confundirmos com outros transtornos (já que alguns tem sintomas semelhantes) e levar em consideração a fase de desenvolvimento do sujeito. Algumas pessoas será mais fácil de diagnosticar pela evidência de sintomas, enquanto outros não.
Por isso estou aqui falando sobre TDAH, para que possamos conhecer um pouco mais sobre esse transtorno.
Sintomas do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
No DSM-V temos duas listas de sintomas, sendo que para ambas é necessário que para crianças se tenham cerca de 6 ou mais sintomas estejam presente, enquanto para adolescente/adultos acima de 17 anos, sejam 5 sintomas. Eles devem persistir por 6 meses, com comportamentos presentes em dois ou mais ambientes diferentes (como casa/escola, casa/trabalho, por exemplo).
Sintomas de desatenção:
O sujeito, com frequência, não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, trabalho ou outras atividades;
Há dificuldade frequente de manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
Frequentemente não parece escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente;
Não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho;
Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;
Evita, não gosta ou reluta se envolver em tarefas que exijam esforços mentais prolongados;
Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades;
É facilmente distraído por estímulos externos;
É esquecido em relação as atividades cotidianas.
Sintomas de hiperatividade e impulsividade
Com frequência se remexe, batuca as mãos ou os pés, ou então se contorce na cadeira;
Frequentemente se levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado;
Corre ou sobe nas coisas em situações que isso é inapropriado;
Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades calmamente;
Frequentemente “não para”, agindo como se estivesse com “o motor ligado”;
Fala demais;
Deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída;
Frequentemente tem dificuldade para esperar sua vez;
Frequentemente interrompe ou se intromete.
A atenção na psicologia Histórico-cultural
Os autores Leite e Tuleski (2011) fizeram um artigo onde descreveram a atenção dentro da psicologia histórico-cultural. Eles afirmam que nessa abordagem, é necessário ir além da lista de sintomas que o DSM-V trás. Se torna parte do processo compreender como que ocorreu o desenvolvimento da atenção no sujeito. Conseguindo entender essa origem, poderá-se debater sobre as possíveis falhas dessa atenção, que levariam a ser consideradas como um déficit de atenção.
“E, de acordo com esse método, ao discutir tais “falhas”, há que se buscar compreender a origem delas, principalmente na situação social de desenvolvimento do indivíduo em questão” (Leite e Tuleski, 2011).
Dentro da abordagem histórico-cultural, há a premissa de de dois processos que o ser humano tem. As formas de comportamento inferiores, são as inatas como reflexo, instinto e o próprio comportamento. Já os comportamentos superiores passam pelo processo de aprendizado, é aquilo que precisa ser desenvolvido a partir da participação de uma pessoa que esteja no meio. Como uma mãe que ensina seu filho pequeno sobre certas coisas, tipo ler. É quando há alguém mediando esse aprendizado.
O que é interessante nessa abordagem é que esse processo de desenvolvimento superior passa por duas fases. A primeira é interpsicológico, que envolve essa mediação de uma outra pessoa, e em seguida a intrapsicológica, que é o momento em que aquele aprendizado foi internalizado, absorvido pelo sujeito.
Nessa teoria, a atenção seria algo que o sujeito tem por naturalidade, permitindo que se desenvolva a partir dela. No decorrer da vida, a atenção passa a ser modelada de acordo com a necessidade. Mas tudo isso ocorre de forma inconsciente, sendo chamado assim de Atenção Involuntária. Se tratando de algo que ocorre nos primeiros meses de vida de um bebê, podemos entender que é apenas para despertar interesse em algo, não tendo relação alguma com moldar ou criar comportamentos.
Já a atenção voluntária, surge a partir da necessidade de focar essa atenção para realizar alguma atividade.
Impactos quando TDAH não é conhecido
Pode acontecer de pais/cuidadores/professores não terem muita paciência com a criança que tem o transtorno. Para aquele que desconhecem o TDAH, as chances de dizer que o comportamento da criança é birra ou algo ruim são bem grandes. Com isso vem as duras criticas sobre seus comportamentos, chegando à comparações com outras crianças que, segundo a visão dos adultos, se comportam melhor e seriam um exemplo a seguir.
É essencial que se tenha conhecimento do quão difícil pode ser para uma criança, ir contra a esses estímulos/impulsividade. Se quer os pequeninos são imunes de se sentirem cabisbaixo e com baixa autoestima por conta das represálias que recebem. Comportamento agressivos e impulsivos podem surgir diante desse cenário incompreensível.
“Dado o caráter aversivo que a hiperatividade, a desatenção e a impulsividade têm sobre os pais, professores e amigos, a colaboração destes pode ser difícil de ser obtida, tornando ainda mais importante uma intervenção global para o problema” (Silva, 2003, apud Desidério e Miyazaki, 2007).
O que os autores também ressaltam é sobre a prevalência dos sintomas durante toda a vida do sujeito. Antigamente acreditava-se que o transtorno iria sumindo na medida em que a criança ia se tornando adulta. Porém, já foi avaliado que uma boa parte de pessoas diagnosticadas ainda tem os sintomas mesmo na vida adulta. Lembrando que, cada caso é um caso.
Tendo isso em mente, o trabalho com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade se estende a criança na escola, também englobando o adulto em seu ambiente de trabalho e convívio social.
A sensação de que a criança está fora do controle pode gerar estresse para os pais. Principalmente quando há a presença do transtorno desafiador de oposição. Alguns familiares podem se sentir desgastados por sentirem necessidade de monitorar a criança a todo momento, o que pode resultar em discussões, ressentimentos, etc.
“Estudos realizados com pais destas crianças indicam que estes sentem maior insatisfação com seus papéis parentais. As mães têm vulnerabilidade aumentada para depressão e há maior consumo familiar de álcool em função do estresse” (Faraone e cols., 1995; Podolski & Nigg, 2001 apud Desidério e Miyazaki, 2007).
Concluindo
O TDAH não tem cura atualmente, por isso o trabalho terapeutico envolve uma redução temporária dos sintomas. O tratamento pode ser feito tanto no âmbito farmacológico quanto psicólogico, sendo essencial que ambos sejam trabalhados em conjunto.
É essencial o trabalho com os pais e cuidadores tanto em relação a ajudar a criança diante de contingências, quanto na própria saúde mental. Afinal, foi como eu disse antes, gera estresse para os pais, então trabalhar com eles também é uma possibilidade de ser feito em paralelo.
Haverá casos em que a criança diagnosticada poderá não precisar de psicoterapia, porém é ideal que seja trabalhado uma orientação com os pais para entenderem os comportamento de quem tem o transtorno. A orientação escolar também pode ser uma saída para tornar o convívio social da criança saudável.
E então, o que achou do assunto de hoje? Com certeza ele rende bastante teoria e estudo, seja falando somente sobre a atenção, ou hiperatividade, etc. É interessante que sejam estudados com mais profundidades algumas técnicas e formas de ação terapêutica. Como que você, psicólogo, iria orientar pais de uma criança com TDAH a ajudarem seus filhos? Talvez seja assunto para outro post 😉
Fontes
DSM-V
TDAH no atendimento da psicologia histórico-cultural – Leite e Tuleski, 2011
Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: orientações para a família – Desidério e Miyazaki, 2007