Você já se perguntou alguma fez se a sua memória é falha? Por que ela seria? Por incrível que pareça, nossa memória pode ser traiçoeira. Saiba mais nesse post!
Você pode estar estranhando a gente falar sobre como a nossa memória funciona. No entanto, há algumas informações que precisamos saber, para entendermos como que funcionamos. Afinal de contas, o processo de memorização não é tão controlável quanto esperamos.
O livro Subliminar do autor Leonard Mlodinow trás em um capítulo uma discussão sobre o assunto, a forma como nossa memória preenche lacunas que podem não condizer com a realidade.
Como estaremos falando de um livro em especifico, devo avisar que não irei me deter sobre partes dos cérebros que são responsáveis pela memória.
Apenas irei relatar sobre um capítulo que trás observações de um aspecto da memória.
E para isso, o autor faz uso de contos de casos. Vamos conhecê-los?
Primeiro caso de falha da memória
O primeiro caso é de uma universitário que é estuprada ao meio da noite. Durante todo o ato, ela busca memorizar o rosto de seu estuprador. Por isso, ao falar com a polícia, ela dá detalhes com confiança para que a pessoa certa seja presa.
Porém, o rapaz que foi preso tentou se dizer inocente. Em meio á sua condenação, acabou por encontrar o verdadeiro estuprador.
Novamente a garota foi até a polícia para apontar o culpado, e em sua frente se encontravam o rapaz inocente e o verdadeiro culpado.
Porém, sua memória já havia registrado que o rapaz inocente era o culpado. Além disso, os dois homens apontados eram muito parecidos. Uma vez mais a garota aponta para o inocente.
O rapaz só foi inocentado de fato quando um teste de DNA dos espermas foi realizado. No entanto, isso foi anos depois.
Segundo caso de falha da memória
Já o segundo caso, também mostrado durante um julgamento, veio de um cara que parecia ter a famigerada memória fotográfica.
Seus relatos continham detalhes cruciais que impressionava o juri.
Contudo, um psicólogo foi chamado para comparar tais relatos com um gravador que tinha na cena do crime. Resultado, nada do que o rapaz disse batia com a verdade.
Então quando lemos esses relatos, que aqui eu resumi bastante, o que percebemos? Que a memória pode ser falha. Mas por quê?
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Quem começou a estudar a memória
O livro nos leva ao ano de 1907, onde o psicólogo alemão Hugo Müsterberg, que estudou com Wundth inclusive, passou por uma situação que o fez duvidar de sua própria memória.
Podemos dizer que ele era conhecido por conta de memória impecável, onde dizia que jamais teria levado algo escrito para suas palestras. O que nos mostra a plena confiança em seu cérebro.
Contudo, lá estava Hugo de férias com sua família quando recebeu uma ligação da cidade dizendo que sua casa foi assaltada. Ele foi para sua casa e analisou a cena com cuidado, em seguida foi chamado para depor.
Contou tudo em detalhes sobre onde estava a parafina no chão, sobre o relógio que o ladrão teria esquecido de levar, e a forma como teriam entrado na casa.
Qual foi a surpresa a se deparar que seu próprio testemunho estava completamente errado?
A partir desse ocorrido, o psicólogo alemão passou a estudar mais sobre a memória. Descobrira que as pessoas podem ter uma ótima lembranças do aspecto principal de um evento, porém não se pode dizer o mesmo á respeito dos detalhes desse mesmo evento.
E ao ser pressionado a dar tais detalhes desse evento, o cérebro passa a inventá-las.
O que se pode dizer desse evento
Não se trata de uma memória ruim.
Quando estamos memorizando algo, lembramos dos aspectos gerais e do significado que damos á ele.
Basta lembrarmos de um texto. Lendo algum texto, iremos decodificar cada palavras, em cada frase, para que possamos compreender o seu significado. Armazenamos o seu significado, mas não a exatidão das palavras. E quando vamos repetir, passamos a mesma informação, mas com outras palavras.
Podemos dizer que o nosso cérebro preenche as lacunas de detalhes com informações que sejam parecidas, do mesmo grupo, da memória.
Um pequeno exercício de memória
Um exemplo que o autor trás em seu livro é um grupo de palavras como: pirulito, azedo, açúcar, amargo, bom, sabor, dente, agradável, mel, soda, chocolate, coração, bolo, comer e torta.
Agora leia com atenção tentando memorizar cada palavra e em seguida tampe todo o parágrafo anterior com sua mão.
Ótimo, qual das três palavras que serão ditas a seguir, pertence ao grupo? Sabor, ponto e doce.
Pense e tente acessar sua memória, quando tiver certeza volte ao grupo e veja sua resposta.
O autor fala que é comum as pessoas terem certeza de que a palavra ponto não pertence ao grupo de palavras, e que a palavra sabor é presente.
No entanto, a maioria das pessoas dizem que a palavra doce está no grupo, sendo que não está.
Isso ocorre porque colocamos na memória que o grupo de palavras tem em comum sabores e algumas palavras tem haver com doces (como mel, bolo, tortas, açúcar). Por termos lincado isso em nosso cérebro, acreditamos que a palavra bolo pertenceria ao grupo também.
O cérebro, atenção e a cegueira à mudança
“As falsas memórias não parecem diferentes das memórias baseadas na realidade” (Mlodinow, 2012).
A cegueira à mudança é o nome dado ao fenômeno que envolve a visão e a memória. Acredito que dar um exemplo ficará mais fácil de vocês me entenderem.
Dois atores e uma pessoa qualquer passavam pelo campus de uma universidade. Um dos atores estava com um mapa do campus e pediu informações para a pessoa qualquer.
Em seguida, algumas pessoas carregando uma porta grande passam entre o ato e o sujeito qualquer. Atrás da porta havia o segundo ator, que trocou de lugar com o primeiro.
Os dois tinham poucas semelhanças, como o fato de terem poucos cabelos. Porém a diferença entre eles era grande, principalmente a altura e tom de voz. O segundo ator retomava a cena, pedindo informações ao sujeito qualquer, que sequer notou a troca de atores.
Ele teria prestado atenção em questões principais como o rapaz ter pouco cabelo, estar usando um casaco por cima de uma camisa, e estar segurando um mapa do campus. Porém não se deteve aos detalhes que o faria notar a troca entre os atores. Por mais que estivessem usando roupas diferentes, provavelmente eram casacos da mesma cor.
Essa é a cegueira à mudança.
Concluindo
Nossas memórias são mutáveis. Devemos nos lembrar que os demais sentidos também são mecanismos que ajudam na memória, em um trabalho conjunto.
Recordamo-nos do sentimento profundo das situações. Os significados gerais são memorizados, e quando a expomos, fazemos de maneira diferente do conteúdo original. Afinal de contas, não temos a necessidade de nos lembrarmos de detalhes cruciais do dia a dia.
Certas informações são descartadas por serem consideradas não utilizáveis, enquanto outras permanecerão guardadas. Isso nos mostra como a memória se torna um assunto de amplo estudo.
Fontes
Subliminar: Como o inconsciente influencia nossas vidas