Uma das coisas que todo estudante de psicologia faz, é associar a teoria com filmes. Se você precisa de um material para compor algum trabalho então eu indico á vocês uma comédia romântica com delírios. E para os formados e professores, vale a pena continuar a ler esse post.
Introdução
O que irei recomendar hoje, é uma novela sul coreana. Não tenho muito conhecimento á respeito de como é visto a psicologia na Coréia do Sul, porém, eles também gostam de fazer novelas com temáticas médicas. Dentre elas, uma vez que fez tremendo sucesso foi a novela “It’s okay, that’s love“.
A novela irá contar o romance de uma
psiquiatra com um
escritor famoso. A maioria dos personagens tem alguma condição, seja ela associada á
ansiedade, síndrome de Tourette, e até mesmo
esquizofrenia. Sim, um dos transtornos mentais que mais prejudica o ser humano, e que não tem cura, será retratado nessa novela.
Além disso, o enredo nos mostra a questão ética de um profissional da saúde mental. Se você não compreende o motivo de não podermos atender quem conhecemos (família, amigos, etc.), então a novela irá mostrar. A personagem principal que é psiquiatra, já tratou de uma paciente com esquizofrenia, tem todo o conhecimento teórico sobre, não nota que seu namorado é esquizofrênico. Teve até toda uma questão de ela ter passado pelo comitê de ética do hospital em que trabalha, para que ficasse afastada do caso. Enfim, é realmente uma novela que nos faz pensar, e muito, sobre a nossa profissão e até mesmo sobre como esses transtornos agem diferente.
Digo isso por conta de uma imagem que podemos ter de um esquizofrênico. Muitos pensando no personagem do Bruno Gagliasso, mas aqui temos algo bem diferente. Uma pessoa que tem a condição e se quer a percebe.
Enfim, chega de enrolação e vamos falar mais sobre a novela. Já aviso que apesar de ter me segurado, pode ser que tenha saído algum spoiler ou outro.
Pegue sua caneta e o papel, é hora de estudar sobre transtornos na novela.
SINOPSE:
O amor pode brotar dos lugares mais inesperados e nas mentes mais ocupadas. Jang Jae Yeol (Jo In Sung) é um famoso romancista de mistério e popular DJ de rádio que sofre de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Quando ele conhece Ji Hae Soo (Gong Hyo Jin), uma residente do primeiro ano de psiquiatria no hospital em que está sendo tratado, eles ajudam um ao outro a cuidarem de seus profundos problemas emocionais. Mas como Jo Dong Min (Sung Dong Il), colega sênior e primeiro amor de Hae Soo, e Lee Pul Ip (Yoon Jin Yi), a namorada de Jae Yeol irão se sentir quanto a essa proximidade crescente entre eles? “It’s Okay, That’s Love” é um drama sul coreano de 2014 dirigido por Kim Kyu Tae (Cool2vu).
Personagens
Jang Jae Yeol
Primeiramente vamos entender parte de sua adolescência.
O protagonista, Jae Yeol, vivia com a mãe, irmão mais velho e o padrasto, sendo que este último cometia a violência doméstica com a mãe do protagonista. O irmão mais velho, que já tinha cometido alguns delitos, tentou ajudar Jae Yeol de apanhar do padrasto, o afastando do agressor. Contudo, Jae Yeol pega uma faca, e o irmão mais velho acidentalmente empurra o agressor na direção da arma, sendo esfaqueado por Jae Yeol.
A situação vira um caos naquele mesmo momento. Jae Yeol fica inconsciente, o irmão mais velho tenta tirar a faca do peito do padrasto, que até então continuava vivo. Quando a mãe chega em casa se depara com a situação, e corre para acudir o protagonista. Para acalmar a mãe, o mais velho a pede para lhe acusar quando a policia chegasse, e não á Jae Yeol.
O irmão mais velho leva o caçula pro hospital, e enquanto a mãe tentava se livrar da casa, ela fora surpreendida pelo padrasto. Como resultado da situação, a caça foi queimada pela mãe, o irmão mais velho foi preso no lugar de Jae Yeol e com um imenso sentimento de traição.
Onze anos depois…
Jae Yeol desenvolveu alguns hábitos depois desse ocorrido. Dentre eles, sua cama se torna apenas um enfeite na casa, enquanto que a banheira é acolchoada. Sim, Jae Yeol passa a dormir na banheira. Apesar dos traumas, o rapaz tenta viver otimista.
Onze anos se passam, e o irmão mais velho é finalmente solto. Sedento por vingança, ele procura Jae Yeol que estava trabalhando como DJ em uma festa. Com um garfo, o irmão ataca Yeol. É aqui que o delírio começa.
Após ser atacado, aparece um garoto chamado Gang Woo, que se mostra um imenso fã de Jae Yeol, e que o segue para todo canto. O garoto está sempre dependendo do autor.
Durante o início do romance, o protagonista não se mostra preso ao passado, e muito menos sentir raiva do irmão que sempre quer lhe machucar. Pelo contrário, é receptivo aos ataques e demonstra empatia pelos sentimentos do outro.
É muito interessante ver o desenvolver de seu personagem. Na metade do drama a gente vê que ele não gosta de ser perturbado enquanto escreve seus livros. Mas, tem uma parte em que ele não consegue de nenhuma maneira gostar daquilo que escreve. Mais tarde, é revelado que Jae Yeol se auto plagia. Então ele escreve coisas que já foram escritas por ele, sem que o próprio percebesse, e assim que terminava a frase ele apagava.
Ji Hae-Soo
Hae Soo quando era pequena viu sua mãe beijar um outro homem, que não era seu pai. Depois de ter visto tal cena, passou a ter uma síndrome de ansiedade.
No início do dorama temos Hae Soo namorando outro rapaz, por cerca de 300 dias (que seria por volta de 10 meses). Nessa relação, a moça se sentia muito ansiosa em beijar o namorado, pois em sua mente vinha a imagem da mãe com outro cara. Tais pensamentos a deixavam tão desconfortável, que se quer pensava em relações sexuais. Como um mecanismo de defesa, Hae Soo cria um muro em sua volta, agindo de forma fria e arisca.
Mas o interessante é ver sua evolução durante o drama. Ela começa a resolver seu problema de ansiedade a partir das investidas de Jae Yeol, que a beija de surpresa, até o momento que propõe que os dois devessem namorar.
Esse namoro entre os dois foi meio balançado. Ela queria por regras, ele queria pular as regras e fazer do seu próprio jeito. Então ambos se resolvem quando vão a uma viagem para Okinawa (não sei se escreve desse jeito se estiver errado me corrijam). Lá Hae Soo tem relações sexuais com Jae Yeol.
Depois disso, ela começa a se soltar mais, fica maria mole quando descobre a doença de Jae Yeol (aí ela desmorona e aprende de uma vez por todas os seus sentimentos por ele).
Como uma comédia romântica, teve família se opondo ao relacionamento do casal por conta da doença de Jae Yeol, porém eles dão um jeito de continuarem juntos.
Jo Dong-Min
Aqui temos um médico muito amado. O cara só me surpreende em seus personagens, eles são engraçados, e, por algum motivo, parecem combinar com sua aparência. Na comédia romântica, ele representa um médico que foi divorciado uma vez e que é casado, contudo durante todo o drama sua esposa aparece só no finalzinho. O cara era amigo de todos os personagens, morava junto com Hae Soo e Soo Kwang. Também conhecia um dos editores de Jae Yeol, e tratava o irmão do protagonista enquanto estava preso.
Quando ele começa a tratar o irmão de Jae Yeol, acaba por descobrir sobre o passado dos dois. Ele então entende o ponto de vista de Jae Yeol para com seu irmão, e ajuda o presidiário a viver sua vida calmamente.
Quando Jae Yeol esquece a carteira no chão (será contado sobre essa cena mais tarde), o editor dele é chamado na polícia. Lá, ele vê uma certa gravação do momento em que Hae Yeol estava em surto, por isso, pede ajuda do Dong Min. Depois de ver o vídeo, o médico contata sua ex-esposa, com quem tem uma amizade, e os dois chegam a um consenso de contar a todos os conhecidos sobre o assunto e iniciar um tratamento do escritor.
É engraçado ver Dong Min como médico já que ele é muito perspicaz. Sem falar quando está junto de Soo Kwang, os dois não prestam, é muito engraçado ver eles tirando sarro do casal principal. Bom, um belo motivo para se ver o drama.
Park Soo-Gwang
Soo Kwang é um rapaz jovem que foi diagnosticado com a síndrome de Tourette, que é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por tiques múltiplos, motores ou vocais, que persistem por mais de um ano e geralmente se instalam na infância. Pelo que diz no drama, Soo foi expulso de casa por seu pai, e assim passou a morar junto com Dong Min e a trabalhar no café que fica abaixo da casa. Até então sua vida tem sido tranquila, já que ele faz os tratamentos e assim diminui o tempo entre os espasmos. Agora só os tinha quando passava por uma situação da qual ele não tinha controle.
Soo Kwang tem uma queda por uma garota que, até então, seria menor de idade e que continuamente pede dinheiro á ele. Dado um momento, Soo Kwang se cansa e pede ajuda a Jae Yeol de como conquistar ela sem deixar parecer seus sentimentos, agir como um cara frio. E não é que dá certo?
Kwang Soo realmente fez bem esse papel. Achei representou bem os espasmos, facilitando a compreensão da síndrome.
Oh So-Nyeo
Essa garota com certeza encheu o saco de muita gente. Sua personalidade é difícil. Ela sabe muito bem que Soo Kwang gosta dela e o usa. Além de ter um namoradinho dela, que usa de seu salário para comprar coisas fúteis. Diga-se de passagem, Soo Kwang foi besta em dar dinheiro a ela, pra se produzir a outro garoto.
Depois de receber um gelo, a garota finalmente deu atenção ao Soo Kwang. Até que os dois formaram um belo casal no final do drama, realmente adorei a química entre eles que cresceu e amadureceu.
Ela também sofre de um transtorno, mas não me lembro qual é. Algo relacionado ao seu comportamento, por isso ela fala as coisas tão abertamente e sem vergonha.
Han Gang-Woo
Rufem os tambores, porque agora vem a história principal.
Quando começa o drama, temos a leve impressão de que Gang Woo é um garoto de ensino médio que literalmente segue Jae Yeol para todos os lados, e que, assim como seu ídolo, quer ser tornar um escritor famoso. O garoto, pelo que se passa, sofre abusos em casa, seu padrasto bate em si e em sua mãe. E assim busca refúgio em Jae Yeol.
MAS PERA AI! Já ouvi essa história em algum lugar. SIM, aí que tá gente, prestem atenção…nos gif abaixo.
Uma comédia romântica com delírios
No gif acima notamos a euforia entre Gang Woo e Jae Yeol, quando o escritor joga uma pedra na janela de uma garota. A mesma aparece, e grita para ela dizendo que Gang Woo a adora, para dar uma chance ao garoto. Então os dois saem correndo rindo por todos alegres por causa daquela coragem repentina… Mas ai a cena seguinte nos choca…
A diferença entre a vida de Gang Woo e a de Jae Yeol, é a do garoto não ter irmãos. Do resto, tudo é igual.
Na metade do drama percebemos que o protagonista é psicótico, mostrando sinais de alucinação e delírio sem que ele mesmo note. Por conta de Gang Woo ser um “fã” insistente, Jae Yeol começa a se envolver com ele cada vez. Então o escritor começa a falar do garoto para os demais, conversa com ele pelo celular, o visita na casa, e se preocupa com ele.
O ponto máximo de seu surto é quando Jae Yeol leva Gang Woo para casa, e ambos se deparam com o “padrasto” do menino agredindo sua mãe. O garoto sai do carro do escritor e corre para socorrer a mãe, sendo agredido em seu lugar. Jae Yeol acaba por sair do carro também, e começa uma briga física com o padrasto de Gang Woo. Apenas para entendermos o nível de tensão que a situação provoca, o escritor impede que o garoto use uma pedra para jogá-la no agressor.
Toda a situação foi gravada pelo sistema de segurança público. A polícia vê um homem brigando sozinho e reconhecem ser Jae Yeol, não tardando em ligar para o editor – que ao ver as imagens chama pelo psiquiatra Dong Min.
Até então, ninguém tinha notado que Jae Yeol era esquizofrênico.
Como eram mostrados os delírios
Durante todo o drama tivemos “sinais” do delírio do personagem. Vamos ver alguns deles.
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A viagem para Okinawa. Houve um momento em que Jae Yeol atende o telefone, do nada. Hae Soo até o questiona se o telefone havia tocado, onde o personagem responder com “você não ouviu?”. Em outro momento dessa viagem, após o casal ter a primeira relação sexual, Jae Yeol tem um pesadelo onde Gang Woo sofre um acidente, e quando “acorda” vê o irmão mais velho ali na sua frente, na praia, o esfaqueando na barriga. Hae Soo acorda e tentar acalmar o escritor, certa de que fora apenas um pesadelo, enquanto ele continuava a dizer que havia sido esfaqueado e que Gang Woo estava ferido.
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O editor pede á Jae Yeol o número de telefone de Gang Woo. O escritor passa e afirma várias vezes que o número era correto. Quando o editor liga, ele ouve a mensagem de que o número não existe. Querendo saber um pouco mais, o editor pede á Jae Yeol que ligasse para o jovem e conversassem. Jae Yeol o faz, e conversa normalmente, enquanto o editor ao lado escutava a gravação do número não existir. Ou seja, o editor presencial o surto de Jae Yeol.
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Em alguns casos de esquizofrenia, o paciente pode acabar se machucando durante os surtos. Jae Yeol entra em constantes “brigas” acabando por se machucar, principalmente na região do rosto, onde seria uma área receptiva á socos.
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Hae Soo presencia um surto de Jae Yeol. O escritor estaria segurando um punhado de folhas na mão e conversava pelo telefone com Gang Woo, brigando com ele por escrever romances horríveis. No entanto, é mostrado mais tarde que o protagonista não tinha nada em mãos.
Falando um pouco mais sobre delírios
Tudo bem, ficou claro que Gang Woo é uma versão jovem do próprio Jae Yeol, que o criou como uma forma de não sentir culpa pelo o que ocorreu. Isso é notável quando o escritor acalma o garoto em relação á situação da família, repetindo essa frase com uma certa frequência. Além disso, Gang Woo apareceu pela primeira vez quando Jae Yeol ainda estava sofrendo com o ataque do irmão. Provavelmente ali compreendera que o irmão estava o culpando por ter sido preso por conta de um crime que nunca cometeu, e que aquele ocorrido era culpa do próprio Jae Yeol.
O esquizofrênico tem seus delírios e alucinação tão reais, que chega a dar medo neles. Alguns deles são apenas pensamentos inconscientes, que eles próprios não reconhecem (por justamente ser inconsciente), passando a acreditar que pertencem á outras pessoas.
Jae Yeol se sente culpado pelo irmão ter sido preso, por sua mãe ter queimado a casa, por se considerar fraco e apanhar do padrasto, e entre outras culpas. Ele não sabe lidar com todas elas, e assim criou um garoto parecido consigo, que tem as mesmas angustias e precisa do seu conforto.
Toda vez que uma lembrança sobre seu passado aparece, ela nunca volta como uma memória de Jae Yeol, mas como uma situação que ocorre com Gang Woo. Por conta disso, o protagonista simpatiza com o próprio delírio, por ser tão parecido consigo, tendo os mesmos pensamentos que ele mesmo tinha quando mais novo. E como para ele, tudo é real, se quer havia notado que estava doente.
Um outro ponto interessante é, Gang Woo costumava aparecer nas cenas em que o casal principal estava junto. Se estivessem em um encontro, ou apenas falando no telefone, ele surgia como se disesse “hey, ainda estou aqui”.
Protagonista se coloca em risco
O que aprendemos nesse drama foi que, o esquizofrênico pode sofrer alucinações e/ou delírios a ponto de se matar e Jae Yeol demonstrava isso. Dong Min e sua ex-esposa conversam sobre o assunto com Hae Soo, que afirma ter visto Jae Yeol em situações que se colocava em risco. Na gravação, o protagonista parecia realmente brigar com alguém, a ponto de se machucar. Em Okinawa o personagem também se machucou, seguidamente de um acidente enquanto Jae Yeol se mudava.
A casa onde a maioria dos personagens moram pertencem á Jae Yeol, inclusive ele morava junto. No dia em que iria se mudar, o escritor vê Gang Woo andando de bicicleta na rua, onde poderia ser atropelado. Para salvar o garoto, Jae Yeol desvia o carro erroneamente, indo em direção de Hae Soo. Para evitar bater na moça, ele bate contra um poste.
Outra cena em que o personagem se coloca em risco, é quando o casal estava passando o último momento juntos antes da internação do rapaz. Enquanto Hae Soo usava o banheiro, Jae Yeol recebe uma ligação de Gang Woo dando a entender que o garoto iria cometer um suicídio. Jae Yeol deixa um bilhete pra namorada avisando que ia sair, e dirige até a casa do jovem garoto. Enquanto dirigia, Jae Yeol recebe uma ligação do Gang Woo, e ao mesmo tempo o vê andando de bicicleta e sendo atingido por um carro. Para socorrer, o escritor joga o próprio carro contra o outro que havia acertado o garoto.
Na cena do “acidente”, o escritor vê Gang Woo completamente machucado, e logo em seguida Hae Soo chega com os médicos prontos para levá-lo ao hospital. Na rua, havia uma câmera de segurança, e eles mostram que em nenhum momento um Gang Woo foi atropelado.
Despedindo-se do delírio
Após ser internado, o escritor continua vendo Gang Woo todo machucado em um canto do seu quarto. Hae Soo pede á Jae Yeol que olhasse para Gang Woo e procurasse por alguma pista de que ele é um delírio. Nesse momento, ele percebe ao olhar para os pés do garoto que estão sempre descalços e machucados, não importando qual a situação. Nesse momento se dá conta que estava doente mesmo.
Assim, Jae Yeol percebe que aquele garoto, que achava ser seu grande fã, é na verdade a representação do seu eu infantil. E a parte que mais emociona foi o adeus. Jae Yeol se despede de Gang Woo.
Vimos como é difícil para uma pessoa dizer o que é real, e o que não é. E agora presenciamos o ritual de despedida onde Jae Yeol lava os pés de Gang Woo, coloca a meia e um tênis branco.