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O tarô e a viagem do herói – Parte 4

Depois de um ano sem postar absolutamente nada no blog… é hora de regressarmos à nossa jornada, não é mesmo? Vamos dar continuidade ao estudo do tarô junto da jornada do herói de Hajo Banzhaf.

A dúvida que surge quando se enforca

Uma vez que o eu esteja estabelecido, o herói irá acreditar que tudo o que almejava e precisava conquistar foi alcançado. Porém a carta do enforcado vem para colocar uma dúvida mortal que deixa a pessoa na dúvida.

Será?

Igual a um personagem que cai numa armadilha e fica pendurado de cabeça para baixo, o herói também se encontrará numa armadilha que ele mesmo criou um pouco antes de finalizar a sua jornada. Uma situação equivocada ou então uma visão não tão boa, aqui é a hora de voltar alguns passos e recalcular a rota. Na medida em que parecemos ter o controle tanto do passado quanto do presente, a vida apresenta novos desafios que colocam nossas convicções em cheque.

Sendo assim, é nesse momento que o herói enfrenta mais um desafio que irá colocar em cheque a sua paciência.

Em algumas interpretações dessa carta, há uma menção à questão de sacrifício. Alguma coisa precisa ser sacrificada para sair dessa crise. Podemos entender que o herói está passando por essa crise porque algo já não lhe basta mais ou algum caminho errado foi tomado e para sair dela terá de se desapegar a algo. Esse algo pode ser uma ideia, convicção algo mais abstrato ou simbólico, mas que lhe permita aprender.

Caso o herói não se permita, ou simplesmente não consiga, sobreviver a essa crise ele continuará pendurado, andando em círculos com ela. A angustia de lidar com um problema cuja resolução não seja visível leva o herói a uma crise existencial.

o encerramento de ciclos através da morte

A carta da morte é muito temida no tarô por nos fazer pensar que alguém vai morrer ou passar por maus bocados. No entanto a interpretação arquetípica dessa carta pode remeter à finais de ciclos, que querendo ou não podem ser retratados como uma morte. Se considerar a etapa anterior, a do enforcado, onde o herói se dará conta de que a forma como enxergava o mundo precisa mudar, então essa velha visão irá morrer para dar espaço para a nova.

Seria esse tipo de morte, uma morte simbólica focada no momento de se despedir.

O autor menciona que essa fase de se despedir de algo é evitado pelo herói (e/ou nós mesmos), pois a morte foi colocada socialmente como um tabu. Então tudo que se relaciona a ela é evitado por causar angustia. Porém, para continuar a sua jornada o herói precisará entender que a morte é um processo natural e por isso aceitá-la como tal.

Ou seja, o herói só será capaz de continuar a sua jornada a partir do momento em que ele deixar de temer a morte. E com ela vem a libertação.

A morte também mostra uma segunda jornada onde o herói descerá para o inferno (ou submundo dependendo da crença do herói). Psicologicamente falando seria o momento de entrar em contato com o inconsciente e ver aquilo que foi deixado de lado e ignorado nas sombras do eu. Aquilo que a consciência repugna por não considerar como parte de si. Nessa descida ao inferno, o herói irá se tornar inteiro para poder sair. É um processo onde o velho eu morre para o novo eu renascer.

Na etapa do imperador, tivemos a construção de muros do eu que solidificou a personalidade do herói, agora na etapa da morte esse muro é destruído. Esses muros limitam o herói o deixando separado de diversos fragmentos de sua essência inteira. Para continuar a jornada o herói não pode continuar fragmentado, ele deve estar inteiro e equilibrado com a sua essência para cumprir a sua missão, e por isso a carta da morte irá romper esses limites.

arcanjo que conduz a alma

A maior representação desse arcano é a figura de um anjo segurando duas taças que despejam um líquido. Não se sabe se ele está misturando algo ou apenas despejando algo de um taça para outra, mas a questão é que ele parece saber bem as medidas corretas para evitar tanto a falta quanto o excesso desse líquido.

A carta da morte veio para destruir os limites do ego que o imperador havia construído, agora a temperança vem para reorganizar o novo ego. A sua delicadeza em jorrar o líquido de uma taça para outra mostra que tem a destreza e a apuração mencionada anteriormente.

Como a carta da morte dá o fim a algo, então a temperança se ambienta num inferno pessoal. No entanto, a carta não parece representar um cenário digno de um inferno, isso é se não fosse por um pequeno e delicado detalhe:o lírio. No deck de Rider-Waite, o lírio se encontra à beira de um rio, sendo que segundo o povo grego seria uma flor que justamente pertence ao submundo.

O lírio também está ligado ao nome de Íris, uma deusa considerada a mensageira dos deuses. Uma divindade mensageira é uma das poucas que conseguem transitar pelos diferentes reinos livremente, o que simboliza a capacidade de transitar nos diferentes níveis da consciência. Por isso é interessante relacioná-lo também ao arcanjo Gabriel, conhecido como condutor das almas, que também poderia transitar por esses níveis.

Ligando à carta anterior, na carta da morte vimos que tem a figura de um rei morto e de uma criança observando o cavaleiro da morte chegar. Essa criança será coroada como novo rei na carta do Sol, mas para isso ela precisa ser moldada e educada para se tornar rei. A carta da temperança vem para guiar essa alma para um caminho novo.

O condutor de almas é uma figura que sempre esteve presente, porém ignorada. Em alguns mitos ele aparece na figura de um mentor, um sábio, um sacerdote ou simplesmente de um amigo, e geralmente do sexo oposto ao do herói. Do ponto de vista psicológico, o condutor de almas seria a nossa anima ou animus. Isso significaria que devemos dar ouvidos a nossa própria essência, falar consigo mesmo e ouvir o melhor conselho que esse outro lado é capaz de dar.

Outro ponto interessante de se verificar é a posição da carta, a que vem em seguida é a carta do diabo que simboliza os excessos, contrastando a medida certa que a carta da temperança mostra. A carta anterior também mostra um contraste interessante, a carta da morte diz sobre a abstinência, cortar o que não é necessário, enquanto que a carta do diabo fala da cobiça, dos excessos. Sendo assim, a carta da temperança vem mostrar a necessidade de ambos em medidas certas, podendo ser mostrada nas duas taças que jorram o líquido. Precisa tanto da abstinência quanto do excesso, mas é necessário uma apuração para não deixar nenhuma dessas taças transbordarem.

O que poderia significar estar entre essas duas cartas? Não preciso renunciar a nada, mas ao mesmo tempo não me apego a nada. Não evitarei algo, mas ao mesmo tempo não me permitirei tornar dependente dela.

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