Se você já estudou psicanálise, então ouviu falar sobre o tempo edípico. Mas você conhece o mito de Édipo que deu origem a famosa teoria de Freud?

Olá caros leitores!

Eu inicio o post fazendo uma pergunta: você já parou para perceber que algumas teorias dentro da psicologia, tem relação com mitos gregos? É interessante vermos isso dentro da psicologia, pois de alguma forma tanto os mitos como as teorias parecem se entrelaçarem e fazem sentido.

E é por isso que hoje iremos conhecer o mito que deu origem a uma teoria muito conhecida de Freud, o tempo edípico. Para poder entender o tempo edípico, acho interessante conhecermos o mito primeiro.

Introdução

Quando estudei psicologia, uma das matérias que estudei no primeiro período foi o de filosofia. Sabemos que a filosofia conta com mitos gregos, e no decorrer do estudo acadêmico, percebemos que algumas vertentes usam dessas bases filosóficas em suas teorias.

Uma delas é a teoria de Freud sobre o tempo edípico. Não irei entrar em detalhes sobre a teoria em si, pois quero fazer um outro post falando dele com mais propriedade. Contudo, posso dizer que para podermos entender a teoria, é essencial conhecermos a mitologia que acarretou em seu nome.

Para você que não conhece sobre mitologias gregas, vou tentar explicar um fato peculiar e que tem muita relação sobre o mito de Édipo.

Conteúdos mitológicos

Quando falamos de mitologia, uma coisa é muito perceptível, mesmo sendo divindades, os deuses cometem falhas, tem seus medos. Ou seja, eles não são vistos como divindades apenas boas e fortes, mas eles também tem um lado sombra, personalidades que tem seus defeitos.

Pois bem, uma característica principal em alguns mitos, envolve a frequente procura por oráculos que pudessem dizer sobre o futuro. Os contos nos mostram que os oráculos sempre ocorrem, mesmo que a pessoa saiba sobre ele e tente evitar o que lhe é mostrado.

Urano foi uma das primeiras divindades a surgirem, e junto com Gaia (mãe terra) eles tiveram filhos os titãs. Uranos temia que os filhos o destronasse, e por isso aprisionou no útero de Gaia. Não adiantou muito, pois Cronos – um dos filhos – matara o pai e o destronou.

Cronos também tinha esse medo, e quando se juntou a sua irmã Réia, todos os filhos que ela dava a luz o deus do tempo devorava. Quando Réia optou por salvar seu sexto filho e dar pedras a Cronos, o destino fora selado. Zeus era o sexto filho e destronou o pai.

Zeus também não foge da lei. Dizem que ao saber da possibilidade de ele ter um filho mais forte que ele, devorou uma de suas esposas que estava grávida. A esposa em questão tinha a incrível habilidade de se metamorfosear e se transformou em uma gota d’água, sendo esse o momento que o deus a devorou. Porém, a criança nascera a partir da cabeça de Zeus, era o nascimento da deusa Athena.

Conseguem ver aí a semelhança? É como se fosse uma tradição passada de geração em geração. Apesar de não ter muita relação com Zeus, é sobre esse medo que iremos falar a seguir.

Oráculo de Delfos

O rei da cidade de Tebas, Laio, era casado com uma mulher chamada Jocasta. Querendo saber sobre o seu futuro, foi consultar o oráculo de Delfos onde recebeu uma visão terrível: o filho que estava por vir iria matá-lo e se casaria com sua esposa Jocasta. Temendo que a previsão se tornasse realidade, Laio toma a decisão de levar o bebê para o Monte Cierão, onde pregou seus pés (ou os amarrou em uma árvore, segundo outras fontes) e o abandonou para que morresse.

Contudo, o bebê fora salvo por um pastor que trabalhava pelas redondezas, que cuidou de suas feridas e o alimentou. Por conta dos pregos em seus pés, o bebê recebera o nome de Edipodos, que tem o significado “pés furados”. Tempos depois, o rei de Corinto adotou o garoto e retornaram para a cidade de Delfos, onde Édipo nascera.

Quando adulto, Édipo fora consultar o oráculo – aquele mesmo que Laio consultara anos atrás – e recebera a mesma visão que seu pai biológico. Porém, Édipo não sabia que ele era adotado, acreditava que o rei de Corinto era seu pai biológico e por isso resolveu fugir de casa.

Em seu caminho, encontrou um rei que mandava que o rapaz saísse do caminho. Édipo não quis sair, e o desentedimento resultou na morte do rei. Aquele era Laio, o rei de Tebas e pai de Édipo. Só que o rapaz não o conhecia e se quer saberia que aquele era seu pai biológico.

Decifrando a esfinge e se tornando rei

Ao continuar sua jornada em direção de Tebas, deparou-se dessa com uma esfinge. Essa é uma criatura metade leão e metade mulher, que lançou à Édipo um enigma com a aposta de que se ele não decifrasse ela o devoraria. O enigma era o seguinte: qual o animal que de manhã tem 4 pés, ao meio dia tem 2, e á tarde tem 3 pés?.

Édipo respondera-lhe que era o próprio homem (ser humano), pois quando criança ela engatinha (representando a manhã da vida, a infância), ao se tornar adulta anda apenas com os pés (remetendo o meio dia) e a velhice da qual precisa do apoio de uma bengala (entardecer).

A esfinge ficou espantada diante da pessoa que resolveu o seu enigma, e acaba por tirar a própria vida. Assim, Édipo conseguiu entrar em Tebas, se tornando o novo rei – por ter deposto o seu pai. O povo saudou o rapaz como rei, e então entregaram Jocasta para ser a sua esposa.

Apesar de toda a felicidade de estar casado e construindo sua própria família, Édipo via Tebas ser assolada por uma peste, que era comum na época. Optando por consultar os oráculos novamente, descobrira que tudo iria se resolver apenas quando o assassino de Laio fosse castigado.

É aí que Édipo descobre sobre sua história após investigar a vida de Laio. Descobrira que ele era seu pai biológico, e que sua esposa era sua mãe biológica. A descoberta fora estrondosa, Jocasta tirou a própria vida, e Édipo furou seus olhos como uma punição a si mesmo por seus atos.

Diferentes visões do mito

É comum nos mitos gregos terem diferentes versões sobre a história contada.

Alguns contam que logo após ter matado Laio, Édipo encontrara uma mulher entristecida por ter se tornado viúva recentemente. Fora paixão em um primeiro olhar. Nesse caso, Jocasta não teria sido entregue como uma noiva em potencial, e sim Édipo que a escolhera antes de se tornar rei de Tebas.

Outras fontes dizem que Laio também foi adotado por outro rei, onde se relacionou com o mesmo – uma relação homoafetiva. Por conta dessa relação que fora descoberta, Laio recebeu como punição essa maldição que seu filho o mataria e casaria com a mãe.

O complexo de Édipo de Freud

O complexo de Édipo que foi uma reinterpretação de Freud ao mito grego, se remete ao desejo de morte do rival, que pode ser a pessoa do mesmo sexo, e o desejo sexual pela pessoa do sexo oposto. Isso ocorre de forma inconsciente durante a infância, entre os 3 a 5 anos de idade, considerado como parte da estruturação da personalidade da criança.

Futuramente irei falar sobre o complexo de Édipo e os tempos edípicos que envolvem a neurose, psicose e perversão.

Conclusão

O mito de Édipo, o rei de Tebas, foi citado pelo filósofo Aristóteles na obra “Poética”, e também retratada em uma peça feita por Sófocles, um dramaturgo grego que viveu antes de Cristo, recebendo o nome de “Édipo Rei”. O mito é tão instigante, que existem diferentes análises sobre ela dentro da psicologia, a mais conhecida envolve a teoria de Freud.

É considerado um mito que foge dos personagens heroicos, mostrando um lado humanizado do homem que tem de encarar com suas verdades e consequências.

“Édipo, dentro da sua tragédia, é a mais perfeita concepção humana da criação mitológica, a visão que foge do herói e dos deuses, esboçando o retrato universal da psicologia da mente do homem e da sua eterna luta contra os deuses criados para justificar a solidão da alma.”

Fontes

Blogs de mitologias: Cultura mix; Café com filosofia; Imagick.